O que foi o sequestro das meninas em Chibok?

Em abril de 2014, 275 estudantes foram sequestradas pelo Boko Haram na Nigéria

Portas Abertas • 14 abr 2024


Famílias das meninas de Chibok esperam por notícias há uma década

Famílias das meninas de Chibok esperam por notícias há uma década

[Atualizado em 26 de abril de 2024 às 17h08]

O dia 14 de abril de 2014 ficará marcado como um dos maiores sequestros em massa já registrados. Nessa data, 275 meninas foram sequestradas enquanto estavam na escola secundária GGCSS em Chibok, Nigéria. Fingindo ser agentes de segurança do governo, soldados do grupo extremista Boko Haram invadiram a escola, colocaram as meninas, de 14 a 19 anos, em caminhões, atearam fogo na escola e dormitórios e fugiram em direção à Floresta de Sambisa.

Assim que perceberam o sequestro, 47 garotas saltaram dos caminhões e fugiram pela escuridão da floresta. Demorou mais de dois anos até que outras meninas conseguissem a liberdade. Uma década depois, 93 vítimas ainda estão desaparecidas.

Há expectativa sobre a libertação das meninas sequestradas?

Mesmo após dez anos do sequestro, familiares ainda lutam para saber o paradeiro e as condições das vítimas, que se tornaram mulheres no cativeiro do Boko Haram. Ainda não está claro se há algum esforço real para negociar a soltura e assegurar a liberdade das 93 meninas ainda em cativeiro.

Em entrevista à Portas Abertas, Yakubu Nkeki Maina, presidente da Associação de Pais das Meninas Sequestradas em Chibok, revela sua frustração: “É lamentável o governo, que supostamente deveria tomar conta dos cidadãos, ter abandonado nossas filhas nas mãos do Boko Haram. Não há justificativa do porquê nossas filhas não foram resgatadas dos sequestradores. É muito perturbador termos clamado e pedido ao governo para vir ao nosso resgate, mas nosso lamento não ser ouvido”.

Veja abaixo a linha do tempo que mostra quantas meninas foram libertas nos últimos dez anos.

Qual foi a repercussão internacional do sequestro das meninas de Chibok?

O sequestro das meninas de Chibok teve uma grande repercussão internacional, principalmente nas redes sociais com a hashtag #BringBackOurGirls (traga nossas meninas de volta, em tradução livre). Uma das celebridades envolvidas na campanha foi a primeira-dama dos Estados Unidos na época, Michelle Obama.

A comoção pressionou o governo da Nigéria e deu notoriedade aos jihadistas, que exigiram a libertação de outros radicais em troca de algumas das meninas reféns. No entanto, a condição não foi aceita pelo governo nigeriano a princípio.

Qual o impacto do sequestro das meninas de Chibok para as famílias?

Os pais de Chibok sentem a dor da perda, mas não deixam de acreditar no retorno de suas filhas. No entanto, há familiares que não resistiram às doenças causadas pela tristeza e morreram em decorrência do estresse da espera. “Perdemos 38 pais nos primeiros três anos após o rapto. A menor doença pode tirar a vida deles devido à pressão alta”, revela Yakubu.

Yana Gana, uma das mães, disse à Portas Abertas: “Esses anos foram como 100 anos para mim. Dia e noite, continuo orando e esperando que minha filha volte para casa. Se minha filha está morta, eu quero saber, para que possa lamentar e encontrar paz para meu coração. O suspense é demais. Essa questão me deixou com pressão alta, que nunca tive antes”.



Há 10 anos, Mary Abdullahi aguarda notícias do paradeiro da filha sequestrada pelo Boko Haram 

Mary Abdullahi sofre diariamente a falta da filha Bilki: “A partir daquele dia, comecei a lutar contra a pressão alta. Ainda sofro de pressão alta e dores de estômago. Eu suporto graças aos analgésicos. Tudo é causado pela preocupação com o rapto da minha filha.”

Ishaya ora para que reencontre a filha um dia. “Ainda é difícil para mim olhar a foto dela. Esses pensamentos na minha cabeça me fazem sofrer. Não passo um dia sem pensar nela. Mesmo que nossas meninas tenham morrido, queremos que alguém nos informe. Porque então poderemos finalmente perder a esperança”, confessa.


Assim como os demais pais, Nkeki está firme no propósito de reencontrar a filha e testemunha: “Nós temos muita esperança de que, com orações contínuas, um dia veremos as meninas restantes, assim como recebemos as meninas que retornaram. Nós as receberemos com alegria.”

Qual o impacto dos sequestros para a comunidade de Chibok?

Até a noite de 14 de abril de 2014, a região de Chibok era relativamente tranquila. A ação do Boko Haram estava limitada às vilas ao Norte e Leste do país. Mas com o sequestro das meninas, a cidade ganhou destaque nos meios de comunicação internacional.

Hoje, a insegurança continua a ser um problema em Chibok, pois é uma área que sofre com os constantes ataques de grupos extremistas. Infelizmente, o rapto das 275 alunas não foi o único que aconteceu na região.

Em comunidades próximas, por exemplo, os insurgentes chegam em motocicletas, atirando indistintamente, e incendiando casas. Em dezembro de 2020, os criminosos cercaram alguns jovens enquanto eles ensaiavam para o culto de Natal da manhã seguinte. Oito foram mortos e a igreja, incendiada. Eles ainda levaram o pastor e um menino de três anos com eles. No mesmo dia, o corpo do pastor foi recuperado, mas o do menino continua desaparecido.

Qual é a situação atual das meninas de Chibok que foram libertas?

O acesso a qualquer das meninas libertas é rigidamente controlado. De acordo com Yakubu, 39 das primeiras meninas libertadas estudam na Universidade Americana na Nigéria, no estado de Adamawa; 17 estudam nos Estados Unidos; duas já se formaram, e uma se tornou pilota.

No entanto, as meninas que voltaram para seus vilarejos podem enfrentar discriminação por parte dos familiares e vizinhos. Muitos as consideram desonradas e sem valor social por terem sido abusadas sexualmente e tido filhos dos extremistas islâmicos. Apesar disso, algumas se casaram com rapazes da comunidade, mas outras ainda sofrem com traumas e temem sair de casa e retornar à escola.

Mary Katambi concluiu sua graduação em contabilidade pela Universidade Americana em Yola, estado de Adamawa

“Alguns têm medo de nós; outros nos acusam de mau caráter por causa de nossa permanência no Boko Haram. Nós simplesmente os ignoramos porque só nós sabemos o que passamos”, testemunha Precious (pseudônimo), uma das meninas sequestradas.

De acordo com reportagem recente da BBC, algumas meninas de Chibok foram incentivadas pelo governo do estado de Borno a se casarem com seus agressores. Os pais das vítimas acusaram o governador Babagana Zulum de aprovar o sequestro e as conversões forçadas das jovens ao islã, por fornecer alojamentos para que os casais e filhos vivam na cidade de Maiduguri.

Em resposta, o governador afirmou que está respeitando o desejo das mulheres de saírem da floresta de Sambisa juntamente com seus supostos maridos. O político explicou que o estado acolhe, reabilita e reintegra os ex- combatentes do Boko Haram à sociedade nigeriana.

No dia em que o sequestro completou 10 anos, Lydia Simon foi resgatada, juntamente com seus três filhos que nasceram no cativeiro. A jovem grávida de cinco meses foi encontrada na comunidade de Ngoshe. 

Como a Portas Abertas apoia as meninas sequestradas em Chibok e suas famílias?

Em 2014, a Portas Abertas iniciou o projeto de aconselhamento pós-trauma e ajuda com alimentação e medicamentos aos pais e meninas libertas. Outra maneira de assistir as vítimas foi a promoção de uma petição internacional para que os esforços para libertar as reféns continuassem.

Familiares das meninas sequestradas em Chibok participaram de aconselhamento pós-trauma promovido pela Portas Abertas

A Portas Abertas também solicitou a criação de um cargo no governo com o propósito de manter contato ativo com as famílias, além de ser um canal de comunicação aberto e acessível para os pais traumatizados das reféns.

Em resposta à onda de violência extrema na Nigéria, a Portas Abertas promove treinamento de conscientização de trauma para ajudar cristãos a reconhecerem os efeitos do trauma em sua vida e capacitá-los a acolher e acompanhar outros seguidores de Jesus atacados.  

Em 14 de abril de 2024, os parceiros locais da Portas Abertas participaram de um culto especial organizado pelos pais das garotas ainda desaparecidas. Eles deixaram claro que desejam ter suas filhas de volta, mesmo que elas estejam com filhos dos militantes e possam significar um problema para a comunidade a qual pertencem. 

Quais os pedidos de oração sobre o sequestro das meninas em Chibok? 

  • Clame pelas meninas que permanecem no cativeiro do Boko Haram. Peça que sejam lembradas da presença e amor de Deus e de seu propósito para elas.
  • Louve a Deus pelas que foram libertas. Agradeça por todo o progresso que têm feito fora do cativeiro.
  • Interceda pelas que estão soltas, mas continuam sofrendo com o trauma. Ore para que o Senhor as faça receber a restauração de que tanto precisam.
  • Ore pelos familiares das meninas ainda em cativeiro, para que sejam consolados e tenham esperança de rever suas filhas novamente. 
  • Peça por dedicação renovada e transparência do governo nos esforços de assegurar a soltura das filhas de Chibok.


Sobre nós

A Portas Abertas é uma organização cristã internacional e interdenominacional, fundada pelo Irmão André, em 1955. Hoje, atua em mais de 60 países apoiando cristãos perseguidos por causa da fé em Jesus.

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