Portas Abertas • 3 out 2005
A última explosão de seis igrejas iraquianas reflete a gravidade do problema dos cristãos árabes, encurralados entre a cruz de grupos terroristas e extremistas e a espada de governos fanáticos, que manipulam com destreza a questão do radicalismo religioso para o seu próprio benefício, enquanto fortalecem o preconceito religioso e étnico entre os cidadãos. Cristãos árabes vivem no seio de uma cultura racista que prega a superioridade dos muçulmanos, atiçada por meio de um legado, na maioria das vezes, recheado de violência e ódio, além de uma história centrada na discórdia, assassinato e crueldade.
O número de cristãos do Oriente Médio continua a diminuir, não somente por causas naturais, mas porque muitos deles escolheram ou foram compelidos a emigrar. Alguns se sentem vítimas das constantes pressões que culminaram em ataques fatais. Outros sucumbiram à tentação de renunciar à sua fé. Os do Sudão do Sul são os únicos a manter sua posição na luta.
No Líbano, os cristãos perfaziam antigamente, em 1975, de 50 a 60% da população; hoje a porcentagem decresceu para 25-30%. O Ministério da Emigração estima que o número de emigrantes seja de cinco milhões, dos quais 3,5 milhões são cristãos. No passado, o Líbano era conhecido por ser um porto seguro para indivíduos perseguidos, procurados por seus credos religiosos. Hoje, todavia, o país está afugentando seus próprios filhos por causa da violação árabe, da insensatez palestina e da ocupação síria.
O Iraque testemunhou um aumento da emigração na seqüência da queda de Sadam Hussein. Os ataques se dirigiram às mulheres cristãs que não estivessem cobertas com o véu; às residências dos cristãos e, por fim, tirou a vida de muitos cristãos inocentes. Os ataques finais visaram às igrejas cristãs durantes os cultos de domingo e resultaram em muitos feridos. Novas reportagens fizeram menção a milhares de cristãos iraquianos que foram forçados a emigrar para a Síria por causa desses ataques, provando que a então chamada "resistência" nada mais é senão outra faceta da violência bárbara que ataca inocentes e que, em última análise, procura arruinar a experiência de um novo Iraque.
No passar das últimas décadas, a porcentagem de cristãos palestinos caiu de 17% para menos de 2% da população total. O jornal israelense "Badiut Ahrunut" relatou que vizinhanças em Beit Gala, Belém, e Beit Sahur foram esvaziadas de cristãos por causa da esmagadora maré islâmica que fez da causa palestina uma questão islâmica, e também pelo crescente poder dos fundamentalistas, que impõem suas regras e pontos de vista à comunidade palestina. De acordo com a BBC, os habitantes cristãos de Jerusalém, que em 1920 perfaziam 50% da população, atualmente representam apenas 10%.
A Resistência Palestina, sob a liderança de organizações islâmicas, causou um efeito negativo nos cristãos, obrigados a pagar um tipo de imposto a essas organizações, apoiando missões suicidas. Notícias vindas da Terra Santa são preocupantes. Em Gaza, as cristãs, temendo ser atacadas por fanáticos islâmicos, adotaram o véu. Durante a crise na Igreja da Natividade, um repórter de Los Angeles foi capaz de escorregar para dentro da igreja e indicar que os terroristas invadiram a igreja, não respeitando nada. Usaram a madeira do templo como lenha e páginas da Bíblia como papel higiênico. Outro evento que aconteceu na cidade de Nazaré - quando fanáticos tentaram construir uma mesquita bem em frente à Basílica da Anunciação - revela as intenções de organizações fundamentalistas de estabelecer um estado islâmico no mais sagrado solo cristão.
O futuro dos coptas egípcios de maneira alguma é promissor, já que estão agora mais marginalizados que antes. As reportagens publicadas no exterior referem-se a eles como "uma minoria isolada", "uma minoria sob cerco", "uma igreja perseguida" e "uma minoria oprimida". Essa situação deprimente impeliu um milhão de cristãos a emigrar para os Estados Unidos, Europa e Austrália. O número exato da minoria cristã vivendo no Egito permanece como um segredo bem guardado do governo.
De todos os regimes árabes, os regimes sírios e jordanianos são tomados como os melhores em seu relacionamento com os cristãos. Apesar disso, o movimento islâmico e a deterioração da economia afetaram de forma negativa os cristãos nesses dois países. Desde os eventos de 11 de setembro, a tensão aumenta, e ódio a tudo que é relativo ao Ocidente cresce cada vez mais.
Crescem as suspeitas para com os cristãos, acusados de ser "um inimigo interno" - outro exemplo da mentalidade predominante que, com freqüência, levanta dúvidas a respeito do caráter leal e patriota dos cristãos. Parece que os cristãos estão fadados a levar a culpa sempre que tensões ou conflitos surgem entre o mundo árabe e o Ocidente.
Muitas palavras inspiradoras foram escritas, além das significativas visitas do Papa João Paulo II, que desejava apoiar e encorajar os cristãos do Oriente Médio. Entretanto, por mais importante que palavras e visitas sejam, nenhumas delas é capaz de obter resultados significativos. Somente ao se estabelecer as fundações do estado moderno, pode-se vislumbrar uma esperança. Democracia, liberdade e cidadania - os princípios básicos de um estado moderno - foram os fatores que iniciaram a integração dos cristãos em suas sociedades na primeira metade do século passado. De igual modo, foi a ausência desses três fatores durante a segunda metade do século que os levaram de volta aos anos sombrios de isolamento e perseguição, onde eles ainda continuam a estar.
Texto enviado por Daila Fanny.
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