Portas Abertas • 23 fev 2025
A guerra dividiu o Iêmen em várias zonas de controle comandadas pelas partes envolvidas no conflito
O motivo da guerra no Iêmen, que começou em setembro de 2014, é uma questão muito confusa, pois não se trata de um partido contra outro. Para entender um pouco mais, é preciso ter em mente a Primavera Árabe, um momento em que as pessoas viram a possibilidade para uma revolução no Oriente Médio e Norte da África.
No caso do Iêmen, os houthis – um povo originário da Península Arábica formado por muçulmanos xiitas com organização política e militar que emergiu no Iêmen nos anos 1990 – entenderam que aquela era a chance de reivindicar o poder. Então, eles reuniram pessoas e juntaram suas forças para tomar a capital, Saná.
Na época, os houthis eram atacados pelo governo iemenita com apoio da Arábia Saudita. Desde então, o governo tenta tirar os houthis das áreas que desejam tomar. Os houthis se tornaram tão fortes que passaram a atacar até mesmo o grupo de apoio ao governo iemenita, que inclui Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. A Arábia Saudita esperava que a guerra durasse pouco tempo, mas ela continua.
Como resultado, o conflito dividiu o país em várias zonas de controle operadas pelas principais partes envolvidas no conflito: o governo iemenita reconhecido internacionalmente; o governo de fato comandado pelos houthis e o governo formado pelos separatistas do Conselho de Transição do Sul (apoiado pelos Emirados Árabes Unidos). Além disso, algumas áreas do Iêmen permanecem sob o controle de grupos extremistas islâmicos, como Al-Qaeda e Estado Islâmico.
Essa realidade oferece um perigo cada vez maior aos cristãos, principalmente os que vivem em áreas controladas por grupos extremistas. Negociações de paz estão em andamento, mas parecem tratar sobre questões relacionadas à retirada, não a uma restauração real ou sobre como trazer uma mudança real no Iêmen. Então, agora a guerra se tornou uma briga interna.
A guerra gerou uma crise humanitária, tornando itens básicos, como comida e remédios inacessíveis
O conflito fez a economia iemenita colapsar completamente. Salários não são pagos, companhias privadas não funcionam por não poderem comercializar suas mercadorias e escolas não funcionam pela falta de pagamento dos professores. Áreas inteiras estão em anarquia. O país é definido como um “Estado frágil”, sem estrutura de governo e uma lei de direito fraca.
A guerra também gerou uma crise humanitária. Itens básicos, como comida e remédios, são cada vez mais inacessíveis. Isso não quer dizer que os supermercados não têm produtos, mas sim que a comida é muito cara. No Iêmen há comida, mas as pessoas não conseguem bancá-la. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas estima que mais da metade da população do país é afetada pela insegurança alimentar. Isso também impacta a igreja, afinal, até mesmo a manutenção do bem-estar físico se tornou difícil.
Além disso, as pessoas não conseguem fugir, isso porque os iemenitas sempre foram pobres. Eles não tinham reservas como alguns refugiados sírios durante a Guerra Civil Síria. Para onde eles iriam? Nenhum governo os receberia.
A Al-Qaeda, grupo extremista que domina partes do Iêmen, é famosa por ter os cristãos como alvos
A Arábia Saudita está gradualmente se tornando mais livre e menos conservadora quanto à religião. A monarquia saudita tem afastado os elementos mais extremos. Então há uma clara relação entre o que acontece lá e no Iêmen. Afinal, para onde essas pessoas com ideias mais extremistas vão? O Iêmen está aberto. O Iêmen não tem um governo, por isso os recebe. O pensamento deles é: “Ninguém nos quer em lugar nenhum. Ninguém nos ama ou se importa conosco. Então, precisamos nos aproximar de Alá e do extremismo islâmico para conseguirmos o que queremos”.
Ao observar quanto de terra cada partido controla, o antigo governo ainda tem a maior parte, mas há uma menor quantidade de pessoas. Sendo assim, o controle do governo é muito limitado, restrito apenas a alguns lugares. Isso leva a frequentes violações dos direitos básicos dos cristãos, em forma de monitoramento severo, detenção arbitrária, desaparecimento forçado, tortura, maus-tratos e até mesmo morte.
A Al-Qaeda é um grupo fundamentalista que possui seus próprios sistemas. Na prática, membros do grupo se comunicam e se ajudam. Por exemplo, há um juiz e um policial da Al-Qaeda. Como são amigos, se comunicam. Há um agente imobiliário que também é fundamentalista. Por terem interesses em comum e se conhecerem, eles se ajudam. E como isso afeta os cristãos? A Al-Qaeda é famosa por fazer dos cristãos um de seus principais alvos.
Atualmente, possuir literatura cristã também é considerado um crime em áreas controladas pelos houthis. E um novo líder na Al-Qaeda tem feito novas mudanças que aumentaram a vigilância aos cristãos. Essas restrições e a cultura muçulmana conservadora significam que cristãos devem assumir riscos maiores para seguir a Jesus.
Há uma rede de igrejas que atua secretamente no país desde antes da guerra (foto representativa)
Não há igrejas reconhecidas no país. Os que têm dúvidas sobre a fé buscam respostas na internet. No entanto, quando desejam sair do ambiente virtual e se encontrar com outros cristãos pessoalmente, é sempre um desafio. Isso porque convidar alguém novo para participar de uma comunidade de cristãos já estabelecida pode ser um risco para todos. Então quando alguém se converte, a comunidade cristã mantém a comunicação com a pessoa até que haja um grupo de novos cristãos que possa se reunir. E aquela passa a ser uma nova comunidade de cristãos.
Apesar disso, há uma rede de igrejas secretas que atua dessa maneira no país desde antes da guerra. E os cristãos continuam se reunindo. Eles têm reuniões de oração quando se encontram para desfrutar uma refeição juntos. Nas áreas dominadas pelos houthis, os cristãos se encontram em lugares diferentes a cada reunião. Em áreas controladas pela Al-Qaeda, muitas vezes os cultos se resumem a tomar um café a dois. Em outras áreas, os cristãos locais se escondem em meio à multidão.
A guerra pode entrar em uma nova fase, o que pode levar ao aumento da instabilidade no país
A guerra pode entrar em uma nova fase, afinal, a Arábia Saudita e o Irã normalizaram suas relações diplomáticas e a Arábia Saudita está dando sinais de que pode se retirar do Iêmen. Mas isso pode levar ao aumento da instabilidade no país, pois a saída de parceiros regionais pode criar um vácuo de poder provendo uma abertura para o aumento do controle extremista.
Independentemente do que aconteceu ou acontecerá, devemos permanecer com nossos irmãos e irmãs no Iêmen em oração. Peça a Deus por paz e segurança. Peça a ele para gerar bem do mal que humanos tem intentado fazer. E, acima de tudo, peça a ele para fortalecer sua igreja, para que haja cristãos em cada canto do país.
O Iêmen é um dos lugares mais perigosos do mundo para seguir a Jesus. Além da opressão islâmica, uma guerra civil que dura mais de dez anos levou o país a um estado caótico e perigoso. Sua doação permite que líderes cristãos recebam capacitação e recursos para desenvolver o ministério pastoral e cuidar da igreja local.