A crescente influência de grupos jihadistas em Burkina Faso tem um impacto violento e direto sobre os cristãos. Muitos foram feridos e mortos em aldeias, igrejas e locais de trabalho, centenas de igrejas foram destruídas ou forçadas a fechar. A ameaça de grupos extremistas se espalhou até mesmo para cidades que antes estavam fora de seu alcance.
Além de serem alvo de jihadistas, os cristãos de origem muçulmana enfrentam enorme pressão da família e da comunidade para renunciar à nova fé. Muitos têm medo de expressar sua crença em público por causa dessas ameaças.
A violência também provocou o deslocamento de um milhão de pessoas em Burkina Faso, das quais muitas são cristãs que fugiram dos ataques de extremistas islâmicos.
Salamata (pseudônimo), cristã perseguida cujo pastor foi morto por radicais islâmicos
Burkina Faso subiu do 32º para o 23º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2023. Em todo o país, a violência contra os cristãos está aumentando, assim como a pressão.
A ação dos jihadistas está se expandindo e muitas igrejas e escolas cristãs estão sendo forçadas a fechar. Os ataques aos seguidores de Jesus criaram um ambiente de medo, em que muitos temem frequentar os cultos da igreja ou mandar seus filhos para a escola. Grupos extremistas também estão substituindo o governo em áreas que controlam e onde retêm os serviços sociais.
Em 2022, as incertezas políticas agravaram a situação. Em 24 de janeiro, um golpe militar derrubou o presidente de Burkina Faso, Kaboré, em meio a uma crise de segurança cada vez mais profunda no país. Tanto os civis quanto as forças de segurança já expressavam seu descontentamento. O golpe foi orquestrado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, que foi promovido a chefe da terceira região militar do país. Esse golpe foi seguido por outro em outubro. Esse caos fortaleceu os jihadistas e expandiu as áreas sob seu controle.
Além disso, a situação em países vizinhos como Níger e Mali também está contribuindo para a insegurança em Burkina Faso. Uma sociedade que era muito tolerante no passado tornou-se intolerante com os não muçulmanos. Isso é agravado pelos conflitos étnicos com dimensões religiosas. Como resultado, os convertidos e outros grupos cristãos estão enfrentando altos níveis de pressão. Se isso continuar, é muito provável que Burkina Faso se torne um Estado ainda mais perigoso e frágil.
O termo “tipo de perseguição” é usado para descrever diferentes situações que causam hostilidade contra os cristãos. Os tipos de perseguição aos cristãos em Burkina Faso são: opressão islâmica, corrupção e crime organizado, opressão do clã.
Já as “fontes de perseguição” são os condutores/executores de hostilidades, violentos ou não violentos, contra os cristãos. Geralmente são grupos menores (radicais) dentro do grupo mais amplo de adeptos de uma determinada visão de mundo. As fontes de perseguição aos cristãos em Burkina Faso são: grupos religiosos violentos, cidadãos e quadrilhas, parentes, redes criminosas, líderes religiosos não cristãos, líderes de grupos étnicos.
A perseguição mais severa é reservada para aqueles que deixam o islã para seguir a Jesus. No entanto, a crescente influência de grupos jihadistas faz de todos os cristãos no Norte e no Leste do país alvos de ataques.
Na região leste do país, onde a lei islâmica é aplicada por grupos radicais, mulheres e meninas são vulneráveis a sequestros. Em todo o país, a agressão sexual de mulheres e meninas é um método comum de ataque às comunidades cristãs, e as filhas dos líderes da igreja estão especialmente em risco. As cristãs de origem islâmica enfrentam pressões adicionais e podem ser agredidas física e sexualmente, submetidas a casamentos forçados, colocadas em prisão domiciliar, privadas de educação e expulsas da casa da família.
Os cristãos são alvos de ataques físicos e sequestros por grupos extremistas. Isso causa medo nas comunidades cristãs e torna as famílias financeiramente vulneráveis. A pressão é tão intensa que muitos fogem do país. Aqueles que se convertem do islã são vistos como “traidores” e podem ser rejeitados pela família.
A Portas Abertas trabalha por meio de parceiros locais no fortalecimento de cristãos em Burkina Faso. Isso acontece por meio de treinamento para sobreviventes de ataques extremistas, ajuda emergencial e cuidados espiritual e pós-trauma.
Além de orar por eles, você pode ajudar de forma prática doando para os projetos da Portas Abertas de apoio a cristãos perseguidos. Doando para esta campanha, sua ajuda vai para locais onde a perseguição é extrema e a necessidade é mais urgente.
Senhor Jesus, proteja seus filhos do perigo em Burkina Faso. Frustre todos os planos malignos de grupos extremistas e acabe com a influência deles. Cure, console e restaure todos os atingidos pela perseguição e derrame nova esperança em seus corações. Fortaleça nossos irmãos e irmãs diante da oposição e use-os como faróis de luz em suas famílias e comunidades. Dê estabilidade política ao país e capacite o governo e os serviços de segurança em seus esforços para combater o crescente jihadismo. Amém.
HISTÓRIA DE BURKINA FASO
Burkina Faso está localizado na região do Sahel, no Oeste Africano. Por volta do século 15, cavaleiros conquistadores invadiram a região a partir do Sul e fundaram os reinos de Gurma e Mossi. A França obteve o protetorado sobre o império Yatenga em 1895, enquanto os gurmas aceitaram o protetorado em 1897. Os franceses dividiram o país em círculos administrativos, mas mantiveram seus chefes nas posições tradicionais. Em 1932, ele foi dividido entre Costa do Marfim, Níger e Sudão Francês.
O país era conhecido como Alto Volta e conquistou a independência em 1960. Durante sua história de pós-independência, Burkina Faso passou por diversos episódios de agitação política e instabilidade.
Como a maioria dos países africanos, as fronteiras territoriais são o produto de uma demarcação colonial europeia do século 19, chamada “Partilha da África”. O movimento de independência para se tornar livre do controle da França foi conduzido pelo partido União Democrática Voltaico (UDV). O líder do UDV, Maurice Yaméogo, se tornou o primeiro presidente do país. Depois de chegar ao poder, o presidente Yaméogo baniu todos os partidos políticos e declarou o país um Estado de partido único. O regime favoreceu as políticas francesas e de outros poderes ocidentais.
O regime do UDV se tornou impopular, o que levou a um surto de instabilidade política em 1966 e o coronel Sangoulé Lamizana orquestrou um golpe militar bem-sucedido. Lamizana tomou o controle e permaneceu no poder pelos 14 anos seguintes, primeiro com completo governo militar e então com um governo militar que incluía alguns civis com poder limitado. Protestos políticos liderados pelos sindicatos do país forçaram o regime a introduzir uma Constituição democrática em 1977. O país realizou uma eleição aberta em 1978 que Lamizana venceu. Essa eleição, como todas as eleições anteriores, não foi livre e justa.
O país experimentou um segundo golpe militar quando o regime de Lamizana foi derrubado pelo coronel Saye Zerbo, em 1980. O regime de Zerbo foi impopular, enfrentou considerável oposição e durou apenas dois anos. Um conselho militar chamado de Conselho da Salvação Popular (CSP), liderado por Jean-Baptiste Ouédraogo, derrubou o regime de Zerbo em 1982. Após instabilidade política e conflitos internos, em 4 de agosto de 1983, o regime de Ouédraogo foi derrubado pela facção do CSP, liderada por Thomas Sankara e Blaise Compaoré. Sankara foi colocado como presidente da república.
Em 1984, o presidente Sankara mudou o nome do país para Burkina Faso (“terra de homens honestos”). Sankara foi um dos líderes mais populares na África. Ele introduziu diversas reformas políticas e sociais que incluíram mais direitos para mulheres e trabalhadores. Entretanto, parece que suas políticas econômicas socialistas foram impopulares entre potências ocidentais, e ele foi morto em um golpe liderado por Blaise Compaoré, em 1987.
O governo militar de Blaise Compaoré era ditatorial e impopular entre as pessoas. A oposição ao regime foi recebida por represálias violentas e muitos líderes da oposição foram presos, mortos, torturados e forçados a deixar o país. A oposição chegou ao auge da revolta em 2014, o que forçou Compaoré a deixar o país em outubro de 2014, após 27 anos no poder. Após um breve período de transição, houve outro golpe militar em setembro de 2015. Entretanto, os líderes do golpe concordaram em transferir o poder para um governo civil por meio de eleições. Uma eleição democrática foi realizada em novembro de 2015 e Roch Kaboré se tornou o primeiro presidente democraticamente eleito de Burkina Faso.
Eleições gerais ocorreram em Burkina Faso em 22 de novembro de 2020 para eleger o presidente do país e a Assembleia Nacional. As eleições se deram à sombra da violência jihadista, que tirou mais de duas mil vidas apenas em 2020. Nas eleições presidenciais, o presidente em exercício, Roch Kaboré, do Movimento Popular para o Progresso, foi reeleito no primeiro turno com 57,7% dos votos.
Cristãos no país fizeram enormes contribuições, por exemplo, ao levar o país à independência e em todos outros esforços para estabilizar o país. Ao mesmo tempo, principalmente nos últimos anos, cristãos são visados por jihadistas que estão crescendo em influência no Sahel.
HISTÓRIA DA IGREJA EM BURKINA FASO
Na história recente, a região do Sahel foi dominada por Estados islâmicos como o Império de Mali e o Reino Mossi. Embora governantes muçulmanos controlassem esses reinos, a maioria da população manteve suas crenças tradicionais. Por exemplo, ainda no século 19, a maioria das pessoas não era muçulmana. O cristianismo foi introduzido durante o período colonial francês, e a maioria dos cristãos hoje são descendentes de seguidores de religiões tradicionais africanas.
O cristianismo chegou ao país em 1896 com os franceses. A Sociedade dos Missionários da África entrou no país em 1900 e abriu a primeira missão em Uagadugu em 1901. Em 1922, uma ordem católica nativa, chamada Irmãs Negras da Imaculada Conceição, foi formada. Em 1955, a Igreja Católica decidiu fazer uma arquidiocese em Uagadugu.
Os protestantes chegaram ao país no começo dos anos 1920. Missionários da Assembleia de Deus se tornaram ativos em Uagadugu em 1921 e abriram uma escola bíblica em 1933. Em 1923, a Aliança Cristã e Missionária começou um trabalho em Dioulasso.
A partir de meados do século 20, muitas igrejas nativas e novas denominações apareceram. O Templo Apostólico foi a primeira congregação nativa independente na capital. A Federação das Igrejas Evangélicas e Missões, a primeira associação cooperativa cristã, foi criada em 1961 por evangélicos conservadores.
CONTEXTO DE BURKINA FASO
Burkina Faso é um país de maioria muçulmana na região do Sahel, na África. Muçulmanos são dominantes no Norte e Leste do país, enquanto os cristãos estão concentrados na área central e Sul do país. Seguidores de religiões tradicionais nativas dominam a região Sul. Historicamente, Burkina Faso tem experimentado um contexto de coexistência harmoniosa entre os diferentes grupos religiosos.
A Constituição de 2012 garante liberdade de religião e o princípio de separação entre igreja e Estado. O governo exige que todos os grupos religiosos se registrem para funcionarem no país. Além disso, o governo não financia escolas religiosas, que operam de forma independente. Entretanto, houve campanhas e sentimento anticristão propagado por militantes islâmicos.
Muitos cristãos e muçulmanos no país também misturam a fé com várias formas de crenças e práticas. Por exemplo, alguns cristãos continuam adotando a poligamia. Entretanto, houve um declínio notável no número de adesão às religiões tradicionais nos últimos anos. Cristãos de origem muçulmana são o grupo cristão mais perseguido no país. Membros da família e comunidade os rejeitam e tentam forçá-los a renunciar à fé cristã. Eles têm medo de expressar a fé em público por causa de tais ameaças.
A conversão não é proibida pela lei, entretanto, muitos muçulmanos se opõem a ela e é arriscado para cristãos discutirem a fé com membros da família pelo medo da estigmatização e de serem tratados como forasteiros. Principalmente os cristãos de origem muçulmana enfrentam reações hostis se discutem a fé com os outros. Também é arriscado se encontrar com outros cristãos e usar imagens ou símbolos cristãos.
Em algumas escolas onde líderes, e às vezes donos, são predominantemente muçulmanos, os alunos de todos os tipos, incluindo cristãos, enfrentam pressão para receberem ensinamentos islâmicos. Famílias cristãs também encontram dificuldade para criar os filhos de acordo com suas convicções religiosas. Cristãos de contexto muçulmano perdem direito à herança. Todos os grupos cristãos têm que deixar claro que não celebrarão casamentos ou feriados cristãos em áreas sujeitas a ataques jihadistas.
Apesar do fato de o país ser oficialmente secular e cristãos serem mais de 20% da população, igrejas em Burkina Faso ainda têm medo devido à ameaça de ataques imprevisíveis e restrições sociais em muitas partes do país. Elas são monitoradas de perto por grupos militantes e líderes comunitários. Autoridades locais hostis à fé cristã fazem o possível para impedir programas da igreja em público.
Burkina Faso experimentou diversos ataques islâmicos nos últimos anos, especialmente na região Norte e, ocasionalmente, na capital. Isso pode ser visto como tentativa violenta de “islamizar” o país. O grupo Ansar ul Islam foi formado em 2016 e tenta impor suas leis no Norte do país com formas violentas e não violentas. Há também o Nusrat al-Islam wal Muslim operando no país e que tem laços com grupos militantes locais. Atualmente, eles parecem estar mais focados no combate à presença francesa e países aliados à França. Seus pregadores influenciam os jovens a culpar a França pela infelicidade e corrupção das morais por causa do Ocidente.
Bem como outros países na região, a crise da COVID-19 foi a principal mudança que o país enfrentou em 2020. De fato, Burkina Faso foi um dos primeiros países africanos a relatar diversos casos de infectados. O que exacerbou o problema no país é que enquanto o governo focou em combater a disseminação do vírus, militantes islâmicos tiraram vantagem da situação para realizar ataques.
A violência doméstica, o casamento infantil e a prática de mutilação genital feminina permanecem frequentes. Diversas políticas do governo foram introduzidas para combater o casamento infantil, mas a ampla aceitação social dessa prática torna seu combate desafiador. De acordo com uma pesquisa recente, cerca de metade das mulheres entre 15 e 24 anos acha normal que um homem bata na esposa em determinadas circunstâncias. A violência doméstica comprovadamente aumentou devido a pressões adicionais e estresse causado pela pandemia da COVID-19. Ambientes urbanos são reconhecidamente mais favoráveis para o empoderamento da mulher comparado ao ambiente rural, embora oportunidades econômicas e políticas permaneçam limitadas em todo o país.
© 2023 Todos os direitos reservados