Portas Abertas • 06 dez 2021
Com o fim da União Soviética, as cinco repúblicas da Ásia Central se tornaram independentes, mas não houve mudança imediata
Em 1991, a União Soviética foi dissolvida e todas as 15 antigas repúblicas soviéticas ganharam independência. Para muitas pessoas, incluindo do governo de várias repúblicas, essa foi uma grande surpresa. O sistema político que existia desde 1917, quando a União Soviética foi criada, enfrentou uma situação para a qual ninguém estava preparado. Conheça agora em quais aspectos o ano de 1991 significou uma grande mudança para a Ásia Central e como isso impactou a igreja na região.
Os cinco países na Ásia Central como conhecemos hoje — Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquistão, Cazaquistão e Quirguistão — foram criados no início dos anos da União Soviética pelo regime de Joseph Stalin. A Rússia conquistou a região no século 19 e Stalin a dividiu em cinco partes, nas então chamadas repúblicas soviéticas, de acordo com as maiorias étnicas que viviam ali.
Enquanto a União Soviétiva existia, o governo central em Moscou determinava o que acontecia. As 15 repúblicas eram meramente divisões internas e administrativas que implementavam as decisões políticas de Moscou em nível local. O Partido Comunista era a força dominadora e o resultado disso era um regime ditatorial que não hesitava em agredir e prender a oposição, emitir sentenças longas seja em cadeias, campos de trabalho ou gulags.
Então veio 1991. A agitação política em Mostou, com o golpe contra o presidente Gorbachev, levou tudo ao caos. Em 26 de dezembro de 1991, Gorbachev assinou um documento que significava o fim da União Soviética. O poder central deixou de existir e isso foi adotado pelas repúblicas.
Toda essa mudança não levou a uma guerra, o que era esperado com o fim de uma super potências que também era uma potência nuclear. A principal razão foi que, apesar do fim do governo central em Moscou, quem assumiu os governos das cinco repúblicas da Ásia Central foram as mesmas pessoas que já mantinham cargos altos. Ou seja, elas só continuaram governando os países após a independência. A maioria delas só foi substituída após morrer, mas os sucessores também pertenciam ao pequeno círculo dos antigos líderes do Partido Comunista.
Com o fim da União Soviética, foram poucas as mudanças que de fato ocorreram para os cristãos na Ásia Central
Os cristãos na Ásia Central foram severamente perseguidos durante a era soviética (1917-1991). Já que pouquíssimas mudanças ocorreram tanto na política quanto no sistema legal desde 1991, não é surpresa que aqueles cristãos não experimentaram realmente grandes mudanças, muito menos melhorias, desde que os países na Ásia Central ganharam independência.
Quando a União Soviética deixou de existir, a Ásia Central viu grandes mudanças no cenário religioso. Até 1991, o cristianismo estava ligado a minorias étnicas, como russos, ucranianos, poloneses, alemães e coreanos, que vieram para a região contra sua vontade ou ao serem deportados por regimes comunistas. A maior denominação cristã era a Igreja Ortodoxa Russa, sempre com mais de 90% dos cristãos. Essa igreja era relativamente bem tratada pelas autoridades locais, que tinham que respeitar os cristãos ortodoxos para manter boas relações com Moscou.
A segunda maior denominação cristã era a Igreja Católica Romana, ligada às etnias polonesa e alemã. Cristãos batistas, pentecostais e evangélicos não estavam ligados a grupos étnicos e geralmente experimentavam as piores formas de perseguição. O número de cristãos nativos era muito pequeno.
Quando as cinco repúblicas se tornaram estados independentes, não houve mudança imediata. Porém, quando ficou claro para as minorias étnicas cristãs que o retorno da União Soviética não aconteceria, a maioria dos alemães, coreanos, ucranianos e poloneses decidiram deixar a Ásia Central e voltar para seus países. Um pequeno grupo entendeu que sua tarefa era levar o evangelho para pessoas locais.
Enquanto no início dos anos 1990 vários expatriados cristãos eram ativos no evangelismo na Ásia Central, isso mudou. O número de cristãos expatriados é muito menor. Depois de 1998, houve ainda um êxodo significativo de missionários e ministros estrangeiros quando as portas de vários governos se fecharam.
Apesar do islamismo ser a religião principal na região, ele é considerado como a religião dos antepassados
Com o declínio no percentual de cristãos, a quantidade de muçulmanos na região aumentou. O islamismo sempre foi a principal religião nos cinco países da Ásia Central. De acordo com estimativas do World Christian Database, em dezembro de 2021, muçulmanos eram 71,1% da população do Cazaquistão. No Quirguistão, 87,7%, no Tajiquistão, 97,9%, no Turcomenistão, 96,8% e no Uzbequistão, 96,2%.
Apesar disso, é errado considerar toda a Ásia Central como completamente muçulmana. Os 70 anos de ateísmo durante a era soviética tiveram uma grande influência. O governo atual é secular e busca manter o islamismo sob controle, enquanto a maioria da população apenas segue as tradições islâmicas ao invés dos rígidos ensinamentos muçulmanos.
Na região, o islamismo é mais considerado como a religião dos antepassados. Por isso, é natural para os nativos serem muçulmanos. Já o cristianismo é com frequência considerado a religião dos governadores russos e de outros grupos étnicos não nativos, como ucranianos, poloneses, alemães, coreanos e expatriados.
A conversão de nativos étnicos ao cristianismo não é muito bem aceita. Como resultado, convertidos experimentam muita pressão de família, amigos e comunidade local. Essa pressão é muito mais forte no interior do que em cidades maiores. Parentes oprimirão convertidos, às vezes usando até mesmo abuso físico, na tentativa de fazê-los retornar ao islamismo.
Em quase todos os países da Ásia Central, a lei proíbe atividades religiosas não registradas e sua divulgação. A Bíblia e outros livros cristãos podem ser usados apenas por associações religiosas registradas e dentro de sua área de atuação. Quem distribui material cristão é detido, multado e agredido simplesmente por possuir esse tipo de conteúdo. Além disso, o evangelho só pode ser compartilhado em russo, que é uma língua falada apenas pelos mais velhos, o que dificulta o crescimento da igreja. Com uma doação, você permite que cristãos na Ásia Central recebam Bíblias em sua própria língua.
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