Portas Abertas • 17 mai 2024
Militantes das ADF têm os cristãos como um dos principais alvos em Uganda e RDC (foto representativa)
As Forças Democráticas Aliadas (mais conhecidas como ADF, da sigla em inglês) são um grupo extremista islâmico considerado o mais violento em Uganda e na região leste da República Democrática do Congo (RDC). De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os militantes têm o objetivo de implementar a sharia (conjunto de leis islâmicas) e se dizem associados ao Estado Islâmico.
Em resposta aos diversos ataques das ADF, Uganda e RDC uniram forças para combater os extremistas islâmicos. Porém, o grupo tem se regenerado, já que suas redes de recrutamento e apoio financeiro não foram atingidas. Por esse motivo e com fontes internacionais, o governo da Uganda acusa o Sudão de ser um dos principais mantenedores dos jihadistas.
“A capacidade das ADF de se fundir com comunidades civis permite que elas permaneçam ocultas quando necessário e ressurjam quando as condições são mais favoráveis”, disse Michael Mutyaba, pesquisador e analista político de Uganda.
O grupo tornou-se conhecido por recrutar crianças e treiná-las para operações suicidas e promover ataques em massa em escolas, comunidades cristãs, hospitais, clínicas e igrejas.
As Forças Democráticas Aliadas (ADF) surgiram em 1995, a partir da aliança de grupos armados como o Exército de Libertação Muçulmana de Uganda e o Exército Nacional de Libertação de Uganda. O objetivo inicial era derrubar o governo de Yoweri Museveni em Uganda.
Moradores retornam para ver o que restou do ataque das ADF na República Democrática do Congo
Jamil Mukulu, um cristão que se tornou muçulmano na Arábia Saudita, retornou para Uganda com a intenção de lutar para criar um Estado islâmico. Nesse período, o grupo foi apoiado por alguns países, como Sudão e República Democrática do Congo, que procuravam enfraquecer a influência de Ruanda e Uganda na região. Mas foi a partir de 2013 que o grupo extremista estabeleceu as forças militares congolesas como um de seus alvos.
Os analistas acreditam que as armas das ADF foram fornecidas por Emirados Árabes Unidos, Irã e uma fundação islâmica com sede na África do Sul.
O líder atual das Forças Democráticas Aliadas (ADF) chama-se Musa Seka Baluku. Ele assumiu a posição desde que Jamil Mukulu foi preso na Tanzânia, em 2015. Segundo a ONU, Baluku é da tribo de Mukonjo e tornou-se jihadista ainda jovem, após ser um imã (líder religioso) em Kampala, capital de Uganda.
Buluku foi um dos primeiros membros das ADF e era um tenente de confiança de Mukulu. Após o grupo estabelecer sede na República Democrática do Congo, Buluku ocupou diversas posições e atuou como principal juiz islâmico dos jihadistas. Todas as punições aos “desobedientes” aconteciam a partir de sua interpretação da sharia. O cabeça das ADF também já foi comissário político do grupo e ensinava a ideologia aos recém-recrutados.
Foi durante a liderança de Buluku que as redes sociais começaram a ser usadas para recrutar novos extremistas e estreitar a relação com outros grupos, como Estado Islâmico e Al-Shabaab.
Buluku foi descrito como um homem mal-humorado e violento, que ordenou recrutamento forçado de crianças e liderou o fuzilamento em massa de vários civis. Ele também já executou possíveis soldados opositores por meio de decapitação e crucificação.
Além de promover ataques em massa em escolas, igrejas e comunidades cristãs, os membros das Forças Democráticas Aliadas sequestram e agridem sexualmente mulheres cristãs. Além disso, forçam as vítimas a se casar com eles, que utilizam essa “esposa” como prova da vitória do grupo.
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As ADF também costumam invadir comunidades cristãs e destruir tudo o que encontram pela frente, já que considera os seguidores de Jesus como traidores. Para sobreviver, homens, mulheres e crianças precisam fugir e buscar refúgio em vilarejos próximos, tornando-se deslocados internos. Muitos não têm alimento suficiente; com isso, crianças abaixo de cinco anos enfrentam desnutrição aguda.
De acordo com o porta-voz da ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), Babar Baloch, os deslocados vivem em condições terríveis, sem abrigo, comida, água ou cuidados de saúde. “As famílias não têm itens essenciais suficientes, como cobertores, colchonetes ou materiais de cozinha”, afirma.
Nesse cenário, os parceiros de campo da Portas Abertas oferecem socorro emergencial para que os deslocados internos tenham as necessidades básicas supridas.
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